segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Rinaldo, o criador de oportunidades

Prof. Sérgio Buarque

Existem certos momentos na vida em que determinados eventos podem abrir caminhos favoráveis ou, ao contrário, criar obstáculos que podem atrapalhar o nosso futuro. No meio destes eventos, encontramos também amigos que geram oportunidades que mudam as nossas trajetórias intelectuais e profissionais e estimulam o desenvolvimento pessoal. Eu tive muitos destes amigos que, na minha atribulada vida, ajudaram na abertura de oportunidades. Rinaldo Cardoso foi um dos amigos mais importantes na minha trajetória profissional em um momento muito particular da vida, quando acabava de chegar ao Recife de volta de quase sete anos de exílio. No primeiro ano da minha reinserção intelectual e profissional, trabalhei como editor internacional no Jornal do Commercio, porque na Alemanha tinha me tornado jornalista, e ajudei a fundar o Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro, como um espaço de produção e reflexão intelectual sobre o Nordeste e o Brasil, porque tinha ambição de ser pesquisador e formulador de políticas. 

No final de 1980, sai do Jornal e não tinha conseguido financiamento para nenhuma pesquisa do Centro Josué de Castro na minha área de interesse e atuação.  Financeiramente me apoiava em Ester, minha mulher que mais abriu meu destino no Brasil após o exílio, inclusive me levando a fazer o mestrado de Sociologia. Neste momento, Rinaldo abriu as portas para a entrada na Universidade quando me convidou para ser professor de economia na Faculdade de Administração da antiga FESP (atual UPE), onde ele era professor e figura influente e muito respeitada. Um gesto de enorme confiança, uma vez que estava, há vários anos, afastado das teorias econômicas e nem sequer tinha o mestrado concluído. Minha história acadêmica e profissional tinha sido bem caótica, mas parece que Rinaldo vislumbrou neste caos um potencial e apostou seu prestígio na indicação para o cargo de professor. Meu maior desafio naquele momento era corresponder à confiança demonstrada por Rinaldo.

Como criador de oportunidades, Rinaldo foi mais longe no meu envolvimento na FCAP, me encaminhando para assumir a Coordenação de Pesquisa da Faculdade ao mesmo tempo em que levou nosso amigo comum, Ricardo de Almeida, para a Coordenação de Extensão, formando um trio afinado e complementar, Ricardo, o próprio Rinaldo e eu. Em pouco mais de quatro anos, promovemos uma grande agitação intelectual na FCAP, avançando na realização de pesquisas inovadoras, captando financiamento de instituições nacionais e internacionais, e gerando estudos numa área muito nova no Brasil, de Política de Ciência e Tecnologia. A Coordenação de Extensão complementava a agitação com a realização de grandes eventos intelectuais, como o Seminário Internacional sobre Disparidade Regional, e atraindo pesquisadores da Europa e da América Latina além de brasileiros renomados, para apoiar a nossa produção e os debates.

Foi uma festa intelectual, acadêmica e política, promovendo debates sobre temas atuais e relevantes. Numa metáfora futebolística, podemos dizer que Ricardo era uma espécie de centroavante, o cara que ia na linha de frente como o operador de resultados e eu era um meio-campista que preparava as jogadas e alimentava o atacante. E Rinaldo? Rinaldo era o capitão do time, a figura que apoiava as iniciativas mais ousadas. E era também o mais político dos três. E Mesmo depois que, por diversas razões, o trio se dissolveu, cada um seguindo caminhos diferentes, Rinaldo continuou sendo o criador de oportunidades. 

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