Rinaldo, o criador de oportunidades
Prof. Sérgio Buarque
Existem certos momentos na vida em que determinados eventos podem abrir caminhos favoráveis ou, ao contrário, criar obstáculos que podem atrapalhar o nosso futuro. No meio destes eventos, encontramos também amigos que geram oportunidades que mudam as nossas trajetórias intelectuais e profissionais e estimulam o desenvolvimento pessoal. Eu tive muitos destes amigos que, na minha atribulada vida, ajudaram na abertura de oportunidades. Rinaldo Cardoso foi um dos amigos mais importantes na minha trajetória profissional em um momento muito particular da vida, quando acabava de chegar ao Recife de volta de quase sete anos de exílio. No primeiro ano da minha reinserção intelectual e profissional, trabalhei como editor internacional no Jornal do Commercio, porque na Alemanha tinha me tornado jornalista, e ajudei a fundar o Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro, como um espaço de produção e reflexão intelectual sobre o Nordeste e o Brasil, porque tinha ambição de ser pesquisador e formulador de políticas.
No final de 1980, sai do
Jornal e não tinha conseguido financiamento para nenhuma pesquisa do Centro
Josué de Castro na minha área de interesse e atuação. Financeiramente me apoiava em Ester, minha mulher
que mais abriu meu destino no Brasil após o exílio, inclusive me levando a
fazer o mestrado de Sociologia. Neste momento, Rinaldo abriu as portas para a
entrada na Universidade quando me convidou para ser professor de economia na Faculdade
de Administração da antiga FESP (atual UPE), onde ele era professor e figura
influente e muito respeitada. Um gesto de enorme confiança, uma vez que estava,
há vários anos, afastado das teorias econômicas e nem sequer tinha o mestrado
concluído. Minha história acadêmica e profissional tinha sido bem caótica, mas
parece que Rinaldo vislumbrou neste caos um potencial e apostou seu prestígio
na indicação para o cargo de professor. Meu maior desafio naquele momento era
corresponder à confiança demonstrada por Rinaldo.
Como criador de
oportunidades, Rinaldo foi mais longe no meu envolvimento na FCAP, me encaminhando
para assumir a Coordenação de Pesquisa da Faculdade ao mesmo tempo em que levou
nosso amigo comum, Ricardo de Almeida, para a Coordenação de Extensão, formando
um trio afinado e complementar, Ricardo, o próprio Rinaldo e eu. Em pouco mais
de quatro anos, promovemos uma grande agitação intelectual na FCAP, avançando
na realização de pesquisas inovadoras, captando financiamento de instituições
nacionais e internacionais, e gerando estudos numa área muito nova no Brasil,
de Política de Ciência e Tecnologia. A Coordenação de Extensão complementava a
agitação com a realização de grandes eventos intelectuais, como o Seminário Internacional
sobre Disparidade Regional, e atraindo pesquisadores da Europa e da América
Latina além de brasileiros renomados, para apoiar a nossa produção e os debates.
Foi uma festa intelectual,
acadêmica e política, promovendo debates sobre temas atuais e relevantes. Numa
metáfora futebolística, podemos dizer que Ricardo era uma espécie de
centroavante, o cara que ia na linha de frente como o operador de resultados e
eu era um meio-campista que preparava as jogadas e alimentava o atacante. E
Rinaldo? Rinaldo era o capitão do time, a figura que apoiava as iniciativas
mais ousadas. E era também o mais político dos três. E Mesmo depois que, por
diversas razões, o trio se dissolveu, cada um seguindo caminhos diferentes,
Rinaldo continuou sendo o criador de oportunidades.
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