Lembranças e aprendizados deixados pelo Professor Rinaldo Cardoso Ferreira
Por Bernadete Perez, Maurílio Pedrosa e Tiago Feitosa
Um processo de mudança pode sempre começar aqui e agora na defesa da Universidade pública, gratuita e de qualidade. As mudanças que precisamos na sociedade também é tarefa da Universidade, que não vai exercer sua função social com legitimidade e hegemonia se a vida, a saúde, a garantia dos direitos humanos, o bem estar social não forem plenamente exercidos. Essas ideias aprendemos enquanto estudantes e presidentes do Diretório Central de Estudantes Prof. Paulo Freire, da Universidade de Pernambuco - DCE-UPE, durante o convívio com Professor Rinaldo Cardoso na ADUPE. Atento às nossas posições, falas, ideias, solidário em todos os momentos - nunca tivemos no convívio em nossas três gestões do DCE nenhuma fala desrespeitosa, aumento do tom, gritos ou posturas autoritárias - teve uma relação com o movimento estudantil de coerência ético-política.
Professor
Rinaldo ouvia, atento, nossas falas e aprendemos com ele, na nossa relação de
parceria na ADUPE e com tantos professores de referência como Dôra, Itamar,
Veranice entre tantas e tantos, a nos questionar se a paridade no processo
eleitoral nunca seria possível, se estaríamos fadados à uma reforma
administrativa iniciada na gestão do governador Jarbas Vasconcelos que
desencadearia uma demissão em massa com claro objetivo de privatização da UPE
ou se o desinvestimento orçamentário e financeiro seriam inexoráveis. Juntos,
dissemos não! Fizemos passeatas gigantes com muita mobilização, potente
articulação política entre os diversos segmentos da comunidade universitária,
interinstitucional e com movimentos sociais organizados. Conseguimos a
gratuidade, a paridade, parar a reforma administrativa. Estávamos certos e a
UPE cresceu, ficou mais forte, ainda que aquém do que a comunidade
universitária e sociedade pernambucana mereçam. Mostramos que é possível
movimento solidário e coletivo em torno do comum, ainda que com lugares e
pessoas diferentes, nos juntamos em torno de eleições para diretores e reitores
progressistas, com compromisso político com a comunidade acadêmica e com a
sociedade mais justa. Defendemos juntos os hospitais universitários e o caráter
público e universal do SUS.
Professor
Rinaldo foi forte defensor da interiorização da Universidade, defendia levar
novos cursos, dinamizar e investir fortemente nas unidades no interior. Viu a
potência na interiorização da UPE e apontava a necessidade de fortalecer
institucionalmente. Foi pioneiro na organização do movimento docente e
articulou com movimento docente nacional, defendia a liderança da UPE diante
dos desafios nacionais e locais. Defendeu a democratização dos espaços
representativos da Universidade e foi um articulador dos três segmentos,
fazendo questão de incluir técnicos e estudantes nas pautas antes tomadas como
exclusivas ou dominadas por docentes, mas que acreditava na força da atuação
conjunta em torno de grandes temas em defesa da Universidade Pública. Sobre a
gratuidade, foi intransigente.
Aprendemos
que o debate sobre a mudança é mais que necessário e atual, para recuperarmos a
vontade dos indivíduos, grupos e coletividades, de maneira a compor sujeitos
para construir novos projetos. Projetos críticos e alternativos ao senso comum,
ao pessimismo, à descrença, à falta de investimentos públicos na educação, à
privatização de tudo na vida, da água, saneamento básico, escolas, rede de
saúde, praças públicas, modalidades de discursos e práticas atualmente
dominantes e hegemônicas no contexto atual. A UPE ainda não está protegida e
valorizada como a gente, ele, todas e todos queríamos, mas resistimos e insurgimos
na defesa cotidiana da educação pública e de qualidade.
Se apostamos
que as grandes transformações depende sempre do desejo, de uma vontade de
mudança, de alterar a realidade, de uma dimensão subjetiva juntamente com o
domínio de várias formas de ciência, de um projeto conscientemente produzido
vinculado ao exercício da razão, professor Rinaldo continua presente!
Se
acreditamos que é possível e desejável experimentar novos modos de dirigir
organizações, questionar os micropoderes nas instituições públicas, no hospital, nas
Universidades, nas gestões dos serviços negando o determinismo absoluto do
geral sobre o particular, negando a idealização de só ter sentido se for tudo
ao mesmo tempo, tampouco o pessimismo do nada, professor Rinaldo está presente!
Se buscamos
viver desejando com coeficientes maiores de liberdade, autonomia, justiça, democracia, saúde, solidariedade e prosseguimos enquanto sujeitos sociais, professor
Rinaldo está presente!
E ainda, na
vigência
real de todos esses impasses que temos enfrentado na política na gestão urbana,
na crise ambiental e civilizatória no Brasil e no mundo e alguém de nós acreditar na possibilidade de
mudanças, de reformas ou de revoluções com sentido humano e democrático, professor
Rinaldo estará presente!
Lamentamos
imensamente a perda e seguiremos na resistência criativa e potente do movimento coletivo, de reinvenção da vida,
da afirmação da solidariedade, do reencantamento com o concreto. O movimento é inacabado e permanece na Universidade de Pernambuco, na rede, nas
pessoas, noutros lugares, na possibilidade criada em gerar novas utopias e
conectando a educação, a formação e as políticas
públicas com todas as outras lutas na busca da democracia. As pessoas que
admiramos, que nos afetam e com quem partilhamos a vida nas alegrias,
tristezas, esperanças e riscos ficam gravadas como a imagem única em movimentos
que nunca se repetem, mas que deixam lembranças e apostas em torno do presente
e de um futuro cheio de utopias possíveis!
Professor Rinaldo Cardoso: presente!
*Bernadete Perez - gestão DCE 99/2000
*Maurílio Pedrosa - gestão DCE 97/98
*Tiago Feitosa - gestão DCE 95/96
(Ex-presidentes do Diretório Central dos Estudantes Prof. Paulo
Freire, da Universidade de Pernambuco)
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